16 de maio de 2012

Quando eu crescer, quero ser invisível!


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O que você quer ser quando crescer?
Nós, mães, esperamos sempre respostas como médico, professora, polícia, advogado, bailarina, bombeiro, secretária. Acho que ninguém escolhe ser gari, lixeiro, doméstica por vocação, por escolha.
Mas são esses profissionais invisíveis que fazem nossa vida em sociedade dar certo. Acontece que nem sempre eles recebem o merecido valor. O psicólogo da USP Fernando Braga da Costa durante anos vestiu os trajes de um gari e foi varrer o campus da Cidade Universitária para entender o papel social dessas profissões marginalizadas. O resultado, publicado em livro, revelou um estado de invisibilidade.
Garis, lixeiros, faxineiros, porteiros, carteiros, entregadores, motoristas de ônibus, caixas, garçons… Durante o dia encontramos muitos desses profissionais, mas será que realmente os enxergamos? O resultado da pesquisa mostrou que esse tipo de trabalhador tende a ser enxergado como o objeto de seu trabalho, e não como pessoas: o gari é visto como lixo, o carteiro como a correspondência, o coveiro como o próprio morto, a faxineira como a bagunça e a sujeira. O curioso é que se descobriu que o tratamento dado a esse tipo de profissão é uma via de mão dupla: os próprios profissionais se sentem como o objeto de trabalho. O maior exemplo são nossas faxineiras: quantas delas se sentam à mesa com os patrões para comer? Muitas vezes, mesmo se convidadas, elas preferem não o fazer, pois se sentem inferiorizadas.
A invisibilidade é marcante nas relações desses profissionais em seu dia a dia de trabalho: pagamos nossa compra no mercado, mas mal olhamos para a caixa que nos atende. Cruzamos com um gari na rua, mas evitamos que nosso olhar se encontre com o dele, passamos pelo porteiro um sem-número de vezes, mas não somos capazes de perguntar-lhe como foi o dia, recebemos a pizza na porta de casa, mas sequer trocamos palavras com o entregador.
Desde o dia em que pude ler trechos da pesquisa de Fernando Braga da Costa, passei a tratar melhor esses profissionais. Não que antes não o fizesse, mas comecei a puxar assunto, a tratá-los como pessoas. O resultado foram sorrisos e bom atendimento.
A grande lição veio mesmo com meu filho, um apaixonado pelo lixeiro e seu caminhão. Passei a esperar o caminhão todos os dias,  a levar meu pequeno para ver o caminhão da janela, a dar um tchau pro amigo que trabalhava debaixo da maior chuva. Em troca, recebemos cumprimentos efusivos, buzinadas. Certo dia o lixeiro passava, e nós estávamos na calçada. Meu filho ficou em polvorosa de ver o caminhão e ver os lixeiros correndo ao lado dele. Para nossa surpresa, um deles se abaixou, tirou a luva e cumprimentou meu menino. Ele, em sua inocência, deu lhe a mão (qualquer um de nós teria pensado umas mil vezes antes de dar a mão ao um lixeiro, não é mesmo?). Foi ali que vi o “homem que limpa a minha sujeira”.
A próxima vez que sair de casa, repare em quantos homens invisíveis cruzaram seu caminho. A quantos deles você sorriu?
E se nossos filhos responderem que querem ser garçom, manicure, catador de papelão, vamos brincar e aceitar essa escolha! Porque enquanto nós, na nossa maturidade maliciosa, percebemos esses trabalhadores como invisíveis, as crianças os veem como um herói.
Imagem daqui.

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