25 de abril de 2011

E o filho comeu!

O filhote sempre aceitou muito bem as papinhas. Passou da papinha quase líquida à amassadinha numa boa. Até o dia em que resolvi oferecer a refeição mais pedaçuda. Foram várias tentativas, e só houve rejeição. Daí já era tarde demais para voltar à amassadinha, pois ele já não queria saber de nada.

Comer fora de casa passou a ser um tormento: não aceitava nada, nem o que vinha de casa. Nem batata frita! (Olha eu forçando o mau exemplo). Nem na casa das avós, das tias, muito menos restaurante. Comer em casa também era um sufoco: tinha que dar o giz de cera e os papéis para pintar e colocar farofa em tudo… daí poderia ser que ele aceitasse. Veio uma gripinha, um resfriado, e aí é que o apetite foi para o brejo.

O pediatra receitou diversos estimuladores de apetite: uns davam até sono. Nada resolvia. Exame de sangue? Tudo em ordem! Mas pergunta da bobuva (leia-se bolacha, biscoito de polvilho, coisas do tipo)? Ah, isso ele comia. Suco, banana, pera, leite, bolo, isso ele aceitava.

Daí começou a escolinha, e a bobinha mãe pensou: ele vai ver as outras crianças comendo e vai comer. Que nada! Nem experimentar ele queria. E foi aí que a hora da refeição em casa começou a virar um caos. O giz de cera e a farofa já não faziam mais efeito. Eu ficava um bom tempo tentando aviãozinho, trenzinho, skate, nave espacial, mas a garagem não abria! Fazia um segundo prato com outras opções de comida, e nada! Conversava sério, explicava, mas só recebia um “não”. Até que depois de alguns muitos minutoseu perdia a paciência. Era mãe chorando, colher voando, pai pirando, criança berrando. Caos total! Até ele pegar no sono com fome e acordar na hora do lanche da tarde para tomar leite com bobuva.

Um dia eu desisti. Coloquei o prato com a comida picadinha na frente dele e disse para ele comer o que quizesse e se tivesse vontade. Sentei-me à mesa e almocei. Não dei a mínima. Quando olhei para o lado, ele brincava com a comida, jogando arroz e feijão pela cozinha toda, e eu lá, fria como uma estátua que comia. Lá pelos 43 do segundo tempo, ele pegou a colher e mandou ver. Comeu sozinho. Só quando ele se mostrou satisfeito eu me manifestei, carinhosamente, mas sem balbúrdia, dizendo que estava orgulhosa dele.

Tentei outras vezes, sem sucesso. Mas não desisti. A próxima vez que ele aceitou comida foi num restaurante. Mandou ver sozinho um prato de macarrão. Mas na escolinha, era só recusa. A tática do “come se quiser” sem pressão continuou e… Perseverou!

Hoje o pequeno está comendo tudo e sozinho. Ele pega o pratinho e quer que eu diga todos os ingredientes. Daí passa a comê-los nomeando, hora com a colher, hora com a mão mesmo. Derruba, cospe, come de novo. Eu deixo. Semana passada ele deu três colheradas no papá da escolhinha. Ficamos todos felizes.

Sei que essas fases de apetite vão e voltam. No entanto, eu já aprendi um monte nessa primeira fase de recusa alimentar.

  • Ofereça papinha esmagada. Evite passar na peneira ou bater no liquidificador/mix. Fica mais fácil de a criança passar a aceitar a comida sólida.
  • Ofereça alimentos separadamente para que a criança reconheça sabores e texturas.
  • Não desanime no primeiro não. Geralmente a criança recusa um novo alimento cerca de 15 vezes até aceitá-lo. Por isso ofereça o mesmo alimento de formas e em dias diferentes.
  • Deixe a criança brincar com a comida: vale apertar, passar no rosto, na roupa, no cabelo, na mesa. Mais hora, menos hora, ela leva o alimento à boca e percebe o sabor. A satisfação de ver seu filho comer é imediata; a sujeira, você limpa depois.
  • Não force a criança a comer. Ofereça a comida, faça um ou dois aviõezinhos e pronto. Deixe o prato disponível para a criança comer se tiver vontade. Se não, não brigue ou force-a a comer.
  • Nada de pressão: tente você se alimentar com alguém te olhando, esperando você comer. Coma junto, faça companhia, fale sobre a comida, mas nada de ficar só esperando.
  • Sente-se à mesa: nada de ficar correndo atrás da criança com o prato na mão. Lugar de comer e na mesa, e não no sofá, na frente da TV.
  • Dê o exemplo: coma. Mostre à criança como e o que você come.
  • Capriche no visual: a gente come primeiro com os olhos. Se o papá não for apetitoso, com certeza a criança não vai querer comer. E você, comeria algo com aspecto estranho?
  • Deixe a criança comer o que sente vontade. Por isso, coloque sempre no prato um alimento que você tem certeza que ela comeria. Aos poucos ela se sente segura para experimentar outras coisas.
  • Não troque a refeição por mamadeira, doce, bolacha. Hora de comer, é hora de comer. Tudo bem dar um fruta, mas a criança precisa entender que aquela hora é hora da refeição.
  • Se a criança estiver adoentada, seja coerente. Você também fica sem fome quando está doente, né? Mas assim que a criança melhorar, retorne à rotina.
  • Quando a criança comer, não faça muita festa. Espere ela terminar e diga como você ficou feliz e orgulhosa. Senão a criança “descobre” que comer ou não é mais uma forma de se chamar a atenção.
  • Não existe criança chata. Existe criança sem fome. Se nada resolver, experimente deixar a criança com fome: não ofereça o lanchinho da tarde, mas só um suquinho.Corte os petiscos. Atrase a refeição. Deixe-a pedir comida e não ceda aos pedidos de bolacha e danoninho. O ser humano com fome come qualquer coisa! (Cabe aqui ressaltar que não estou dizendo para deixar a criança 3 dias sem comer. Falo de pular um lanche, de não oferecer petiscos, de atrasar a hora da refeição).
  • Procure o pediatra se achar que algo não vai bem.
  • Mantenha a calma. Ninguém consegue comer num ambiente tumultuado, estressante.
  • Seja coerente e perseverante: não desista com os primeiros nãos.
  •  

dircetdm

7 Comentaram - COMENTE AQUI:

Mical Martins disse...

legal as dicas. Meu filho rejeitou mamão de primeira, mas continuei tentando até ele gostar... Hoje em dia come que eh uma beleza!
:)

Aline Y. disse...

Eu passo a papinha na peneira, bom saber disso. Vou começar a esmagar a comida. (: Adorei esse post.

Milene disse...

Pois é... só depois fui perceber o trabalho que a peneira me deu!!!

Jokas

Milene (Diiirce)

Milene disse...

Olha aí a prova de que insistir dá certo.

E acredita que funcionou com o marido que não comia berinjela? kkk

Jokas

Milene (Diiirce)

Bianca disse...

Mi, eu estava lendo a sua postagem e passando um filme na minha mente... lembrando que eu passei por isso mesmo com o meu mais velho!Pior que ele me deixava nervosa, não comia nada e no final eu acabava forçando. Acho que se eu deixasse ele não comia de jeito algum. Como forçei ele acabou vendo que ele não tinha outra escolha a não ser comer e hoje não me dá trabalho pra comer, só tem preguiça de mastigar! Por isso não repeti o mesmo erro com o meu mais novo e ele nunca me deu trabalho pra comer, salvo se tiver doentinho ou com dentinho nascendo (mesmo assim ele come).
Beijossss

Milene Diiirce disse...

Acho q tb vai de criança p criança, né? Tem umas melhores de garfo... Outras têm o apetite mais seletivo. E nós, mães, temos q nos virar p saber qual o tipo de filho!
Jokas

Angelita Dutra disse...

Olá, adorei este post.
Estou grávida, no sexto mês, e lendo muito sobre criação de filhos. A gente aprende muito observando os erros dos outros, e uma coisa que eu sempre disse que jamais farei é ficar correndo atrás da criança para comer (cansei de ver minha cunhada fazendo isso, implorando para meu sobrinho comer). Já comprei até a cadeirinha de alimentação. Estive na Alemanha algumas vezes e fiquei encantada com uma cena num café da manhã num hotel: a mão descascou uma banana e deu na mão do filho (que ainda não tinha 1 ano!). A criança fez uma lambança tremende, mas comeu a banana inteirinha, enquanto a mãe tomava calmamente o seu café da manhã! Fiquei encantada, pensando em como aquela criança será muito mais independente, muito mais esperta que meu sobrinho!
Penso como você, se não quiser comer na hora do almoço, só vai comer no jantar, nada de ficar dando bobagens no intervalo.
Parabéns!

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